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Um monumento ao racismo no Pão de Açúcar da Vila Romana em São Paulo
 


 

Por Gabriela Costa - Quilombo Raça e Classe
Absurdo!

Nos últimos dias, está circulando nas redes sociais a foto de uma estátua, que retrata um jovem negro carregando um cesto de pães, tendo em suas pernas grilhões que o acorrentam.

Este verdadeiro “monumento ao racismo e aos horrores da escravidão” está no meio do supermercado Pão de Açúcar da Vila Romana em São Paulo e, dentro da sua lógica racista e elitista, a estátua está servindo como decoração e “propaganda”. E vale lembrar que, não por acaso, o supermercado em questão fica em uma das áreas mais elitizadas da cidade.

“Felicidade” à custa do racismo e da exploração
O supermercado tem como slogan a absurda frase “Lugar de gente feliz”. Mas que gente feliz é essa? Com certeza, estão falando de seus proprietários e sócios que, em 2012, tiveram o lucro líquido de nada menos do que R$ 1,156 bilhão, acumulando uma receita de R$ 50,924 bilhões.

Para os trabalhadores e povo negro e pobre, em particular, esta tal “felicidade” literalmente não existe. É tão inalcançável quanto os preços abusivos da rede.

E, como se isto não bastasse, o Pão de Açúcar ainda tem o descaramento de produzir “campanhas publicitárias” asquerosas como esta. Afinal, desde quando escravidão é sinônimo de felicidade? Ou será que para o Pão de Açúcar “ser feliz” é carregar peso e andar acorrentado?

A democracia racista dos ricos
O episódio é, lamentavelmente, típico de uma sociedade que vive mergulhado na grande farsa da democracia racial. Um “mito” que tenta mascarar a terrível realidade na qual a maioria de negros e negras vivem neste país.

Somos nós que enfrentamos as condições de trabalho mais degradantes, temos os salários mais baixos e os piores empregos. Algo que pode facilmente ser comprovado na rede do Pão de Açúcar, onde os serviços precarizados, terceirizados e mais pesados são majoritariamente feitos pelos descendentes dos mesmos escravos cuja estátua da Vila Romana está ofendendo e agredindo.

Uma atitude que em nada nos surpreende, por ser completamente “coerente” com a lógica de um sistema que, além de todos os ataques racistas, nega todo e qualquer direito à população negra: da moradia ao transporte; da saúde à educação de qualidade.

O resultado não poderia ser outro. Negros e negras vivem expostos a todo tipo de violência. Exemplos não faltam. Nossas mulheres são as mais atingidas pela violência doméstica, estupros e abortos clandestinos. E um jovem negro, de 15 a 24 anos, tem 139% de chances a mais de morrer do que um jovem branco.

Isso tudo tem a escravidão e a ideologia racista em sua raiz. Práticas que, ainda hoje, são perpetuadas por empresas como o Pão de Açúcar.

Uma luta de raça e classe
Não é novidade para ninguém que empresários, e principalmente a elite branca desse país, não está preocupada com as mazelas que a escravidão trouxe e trás para os negros brasileiros até hoje. O racismo sempre foi uma importante fonte de lucro para a classe dominante.

Em um país onde – a começar pelo governo federal – a história e os direitos de negros e negras são cotidianamente pisoteados, absurdos como a estátua na Vila Romana, lamentavelmente, repetem-se por todos os cantos. Seja em trotes como os da Federal de Minas Gerais, onde alunos pintados de negro foram acorrentados. Seja no cotidiano da mídia, que nos apresenta como serviçais ou bandidos. Seja no verdadeiro genocídio que vitima jovens da periferia e quilombolas.

A imagem de pessoas negras não pode ser utilizada como ação de marketing, pois, a escravidão não é objeto de decoração.
Nós do Quilombo Raça e Classe exigimos a retirada imediata dessa estátua e uma retratação pública do Grupo Pão de Açúcar. Nós que sentimos na pele, cotidianamente, a opressão e a discriminação racistas, não podemos admitir que o nosso sofrimento seja utilizado como um enfeite e fonte de lucro em um supermercado.

Que esse passado vergonhoso do nosso país, seja lembrado de forma crítica e não naturalizada. Que o nosso orgulho ao olhar pra trás seja a resistência do povo negro. Resistência viva e acesa até nos dias de hoje.

Por estas e tantas outras, defendemos uma luta sem tréguas, de raça e classe, até que possamos varrer da história não só estátuas como a do Pão de Açúcar, mas também toda a politica elitista que existem por aí e o sistema que os protege e lhes garante lucro e impunidade.



Data: 22/08/2013


 
     

 

 

 

 


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